Às vezes você acorda e sua cabeça já não passa mais na porta, mas a porta está ali, e você tem que passar por ela mesmo que isso signifique deixar a cabeça pra traz. Aí você sai de casa, se abana, e entra na cidade; mais um corpo sem cabeça andando por aí, e tem um monte e pingüins entre aonde você está a aonde você quer ir, então você nada, nada, nada... e nada. Continua absolutamente no mesmo lugar, mas só que você não vê, pois seus olhos ficaram em casa junto com a sua cabeça.
Aproxima-se um homem cortado em dois e pergunta se você quer pão com ovo ou só o troco, você diz que não, obrigado e vai embora, continua nadando para lugar nenhum.
Seu eu desgovernado chega num Banco, onde um gorilão particular, portador dos objetos metálicos, tira de você seus parcos metaizinhos ( moedas, relógio, a chave da casa onde sua cabeça está) e com um chute na parte traseira do seu corpo acéfalo o conduz a uma fila aonde os eus de diversos outros eus e você bóiam durante horas olhando insistentemente para um quadrado mágico que mostra números que você compara com o número que tem no quadradinho de papel na sua mão, até que você é sorteado e vai se entregar de bandeja a um pingüim bem apessoado de trás de um computador do qual você só vê as costas. O pingüim faz algumas contas, calculando siglas ininteligíveis e sorri até que termina por roubar seu dinheiro e lhe manda embora apertando o botão para que pisque no quadrado mágico o número do próximo trouxa. Você então amarelamente recolhe seus pertences metálicos da gaveta do gorila e vai embora.
Já é meio dia e meia e você sente fome. Abre um sorriso sincero ao ver que o prato do dia é picanha, tira da meia os três reais que tinha escondido do pingüim do banco e os entrega ao gorila da porta do restaurante. Entra, ajoelha-se e se acomoda junto aos outros clientes ao redor de um buraco no chão pelo qual vem o cheiro de uma churrasqueira aonde está sendo assada uma suculenta peca de picanha. Todos deliram por alguns instantes com aquele cheiro que parece envolver aqueles corpos sem cabeça ajoelhados diante do buraco.parece até que se pode ouvir o som da gordura derretida caindo na brasa, mas eis que se passam 15 minutos o gorila da porte te levanta pela gola da camisa e te lança novamente a nadar.
Você nada, então ao lar de um leão marinho que você acha que possa querer algo de você. Lá chegando, entrega recortes de sua história para uma pingüim desinteressada que lhe manda esperar num sofá olhando para outros pretendentes a pingüim que esperam o chamado do leão marinho. Você também quer ser pingüim, e por isso espera até que lhe chama o leão marinho. Adentra a sala com seu melhor sorriso amarelo que não é o suficiente para disfarçar seu medo diante daquela enorme criatura de terno e sapatos de couro de jacaré. Este lhe grita “Quero seus miolos fritos!”, ao que você treme e balbucia algo como, desculpe, senhor, é que me esqueci da minha cabeça em casa hoje de manhã, mas se possível, posso traze-la amanhã sem falta para o senhor, digo... eu realmente gostaria de ser um pingüim, se possível, e... a enorme criatura lhe enxota de seu escritório e você sai rolando desorientado de volta ao olho da rua e volta a nadar.
Nadando, encontra com um sujeito que lhe para e lhe pergunta se amigo, por favor, você poderia me ceder as horas? Você diz a ele que são seis e meia ele se vira e cai morto no chão.
Até que ouve uma sirene e na sua frente está para do um sapo, e “Mão na cabeça, elemento, eu quero saber o que você está pensando!” e voçê diz algo como desculpe mas ele não escuta e “Croc... croc... croc, cadê seus documentos, croc?” “Você está multado, croc!” “Croc, croc, croc, e o resto da carteira, croc, cadê?”, você tenta lhe esplicar que um pinguim levou mas ele também não escuta e diz pra você tirar a roupa e você tira e o sapo pega suas roupas e veste e sai andando e te deixa nu.
Depois disso você nada de volta pra casa e põe sua cabeça de volta e põe ela num travesseiro e usa ela pra sonhar.
Acorda no dia seguinte, sacode os sonhos das cobertas,
E
Faz
Tudo
Igual
Novamente
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