24.1.08

Lote 34 (conto)

Julio chegou e logo lhe avisaram – tem um sujeito com más intenções atrás de tu. – Voltou para casa pra poder pensar, não estava preparado para as más intenções naquele momento. Chegou em casa, acendeu um cigarro e ficou pensando em quem era esse tal de Ricar do que tinha chegado no bar perguntando por ele com sangue nos olhos, mas numa calma fria de alguém que já procurava a muito tempo, não lembrava de ter feito nada a Ricardo algum, tentava pensar em desaforos que tinha feito, pois sabia também que não era nenhum coroinha e que realmente, nem todo ricardo era Ricardo.

E realmente este não era um ricardo qualquer, mas era um Ricardo desagravado, puto. Já estava procurando Julio a uns meses, disposto a dar uns gritos ou uns tapas e, se fosse o caso, uns tiros, para que tinha comprado um revolver. Matar Julio.

Julio voltou ao bar no dia seguinte, Ricardo havia dito que voltaria depois de dois dias, Julio deixou um recado dizendo que se encontrassem no lote 34 do Azulão depois de uma semana.

Ricardo voltou no dia seguinte ao bar, recebeu o recado e gostou. Achou aquela atitude de Julio uma atitude muito digna. Havia recebido o recado, havia aceitado e estabelecido um prazo para se preparar e um lugar adequado, achou aquilo muito digno e aproveitou o tempo para preparar-se também. Foi estudar o lote 34 do Azulão e acho aquele um ótimo lugar, um terreno baldio escuro, discreto e com boas linhas de fuga (pra se fosse o caso). Estudou o terreno, lubrificou o revolver calibre 38, comprou roupas novas e esperou. Seria na sexta feira.

Julio já havia se lembrado de um Ricardo, achou meio estranho que ele ainda tivesse tanta raiva depois de tanto tempo, mas sabia que ninguém sabe toda história como um todo e também não se sabe aquilo que passa pela cabeça de um outro e então pediu esse tempo para se preparar e se preparou... também deu uma averiguada discreta no terreno, fez uns exercícios físicos e, pra se fosse o caso, comprou um revolver calibre 38 e o lubrificou e esperou.

Nenhum dois desconfiava de traição por parte do outro, assim como nenhum pensou em faze-lo. Tinham-se como inimigos honrados, nutriam entre si um ódio que não taxava um pelo outro de mal e tampouco se nutria um sentimento de se estar certo e o outro errado, mas tratava-se mais de uma vontade de enfrentamento.

Chegada a noite do encontro, marcado para meia noite, Ricardo pôs sua roupa nova, encaixou o revolver na calca, nas costas, virado para o braço direito e foi ao lote 34 do Azulão, assim como Júlio pôs uma roupa limpa, encaixou a arma no mesmo lugar que Ricardo, virada para o braço esquerdo, fez o sinal da cruz e foi também ao lote 34 do azulão.

Chegaram a mesma hora, por entradas diferentes, viram-se quase ao mesmo tempo e aproximaram-se até estarem a uma distancia de 3 metros uma do outro quando miraram-se profundamente da cabeça aos pés. Houve um largo silencio até que Ricardo falou com uma voz grave e solene:

- É outro Júlio.

Deram-se as costas, cada um saiu por onde entrou e não se viram mais.

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